quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Pequeno manual sobre o AMOR (parte II)


(hoje vou dar um toque cartesiano aos temas)


Da relação: há sempre uma relação porque há duas pessoas que interagem. Mais ou menos duradoura, mais ou menos intensa, mais ou menos séria, mais ou menos monogâmica.
Voltemos à percepção da realidade por parte de cada elemento:
- os dois querem o mesmo, seja o tudo, o pouco ou o nada - perfeito.
- há diferenças de querer - está o caldo entornado porque há sempre um que sai magoado; mas como dizer ao outro que se quer pouco ou mesmo nada, para além do que já se teve, quando se percebe que o outro quer muito? Como falar de afastamento quando se tem alguma sensibilidade e não se quer magoar o outro que, afinal, até é uma excelente pessoa?
Honestidade. Sempre. Nem que seja aos bocadinhos. Não dar esperanças vãs, não alimentar o que se quer morto. É mais fácil falar do que fazer, reconheço. Mas lembrem-se que estes são os conselhos que dou e nem sempre cumpro.
A relação deve corresponder às expectativas dos elementos, conduzida nesse sentido. Expectativas diferentes devem ser faladas, discutidas, negociadas. Ou acabadas, caso contrário dão lugar a medos, fantasmas e perseguições.

Do ciúme: a tendência monogâmica do ser humano (ou antes a imposição social que determina que para cada homem há uma mulher e que, uma vez juntos, não podem trocar de pares nem acrescentar elementos ao casal para o transformar num aglomerado de gente), provoca o ciúme. Não tenho nada contra o ciúme, desde que moderado- sabe bem saber que o outro se sente incomodado, ameaçado mesmo, quando damos mais atenção a outra pessoa ou quando somos seduzidas(os) por terceiros. Um olhar mais preocupado ou até mesmo uma mudança de atitude servem para demonstrar que se tem medo de perder: o ciúme.
É então que se pode optar por assumir novamente uma atitude sedutora para com o elemento do casal que parece em perigo, preferir o desprezo e interpretar um papel de 'não quero saber, nem estou a perceber o que se está a passar ' (porque às vezes não se passa mesmo nada e a realidade é o que fazemos dela) ou ir directamente para a violência, que é sempre a situação menos indicada.
O ciúme pode ser utilizado para revitalizar a energia do casal de uma forma positiva ou negativa. Depende das reacções que se desencadeiam à provocação mais ou menos consciente do outro.
Há que ter sempre em conta que aquilo que um vê pode não ser o mesmo que o outro percepciona: tudo depende das nossas próprias vontades e experiências.

Da traição: quando o outro nos diz menos ou quando nos deixamos seduzir pela novidade, pelo interesse súbito que despertamos em terceiros, pelo tratamento diferenciado que recebemos de outrém, pela carência em que nos encontramos, pelo estado de inebriedade que atingimos, pela cegueira que cai sobre nós e que nos impede de ver o sedutor tal como ele é mas como queremos que ele seja. Ou quando as duas coisas se conjugam e percebemos que a relação já não funciona. A antiga. E queremos conhecer a nova. Ou as novas.

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